Freguesia de Vila Nova

Nos caminhos do futuro

História da Freguesia

7.2 | ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA AJUDA

No testamento de Heitor Álvares Homem, datado de 4 de Fevereiro de 1527, ficou expressa a vontade de ser enterrado na ermida que mandara fazer, de Nossa Senhora da Ajuda, nas suas terras do Varadouro, embora nessa data ainda faltasse concluir a capela45. Noutro testamento de 1533, uma paroquiana doou uma saia, para que se fizesse o frontal do altar, que seria bordado e guarnecido com o seu “sainho e cinta de veludo”. Constata-se, assim, que a data que tem sido apontada, 4 de Fevereiro de 1542, para a fundação da ermida não parece correcta, pois nessa altura já ali se haviam enterrado várias pessoas e realizado missas. Mas a ermida continuou a sofrer remodelações, dado que em 1562, Gomes Pamplona comprometeu-se a acrescentar um outro altar, a sustentá-lo e a repará-lo. Gaspar Fructuoso refere que ali se diziam duas capelas quotidianas pela alma dos fundadores e herdeiros que nela estão sepultados. À sua volta existiam nobres casarios, onde vivia o morgado Homem da Costa Columbreiro, neto de Heitor Álvares. A ermida foi fortemente atingida pelo sismo de 1614. O bispo na visita pastoral de 1629, mandou que o administrador, Luís Homem da Costa, a edificasse e compusesse, num prazo de seis meses. Se o não fizesse, seria condenado a pagar dez cruzados, aplicados para a bula da Cruzada e meirinho46 . No caso de recusar-se a fazê-lo seria sequestrada a renda do morgado que tinha tal obrigação. O próprio padre ficou encarregue de o avisar, com a ameaça de uma pena de mil Réis47 . O terramoto de 1841, voltou novamente a atingi-la, mas com menores danos. Com uma só capela, onde estavam as imagens da Virgem, de São Pedro e São Paulo, a ermida tinha a dimensão de 12 metros de comprido por 6 de largura. Esta ermida esteve sempre ligada aos herdeiros de Heitor Álvares Homem, até 13 de Fevereiro de 1884. Nesta data, a família já se havia desfeito da maior parte dos terrenos que lhe pertenciam nas redondezas, e o barão de Noronha, Manuel Homem de Noronha, residindo em Angra, doou-a à Junta da Paróquia, bem como as poucas alfaias ali existentes. Como condição propunha, apenas, que se devia consentir a devoção que os pescadores ali faziam e a celebração de missas pelos vizinhos. E a promessa tem sido cumprida até ao presente. Na ermida foi colocada uma placa para homenagear um grupo de pescadores que salvou a tripulação de um avião americano. O acidente ocorreu no dia 3 de Novembro de 1948, com um incêndio a bordo e o despenhamento da aeronave junto ao porto da Vila Nova. Apesar das chamas que rodeavam o aparelho, um grupo de 21 pescadores acorreu ao lugar e conseguiu salvar um piloto e mais 3 elementos da tripulação (eram ao todo 20). Todavia, um jovem pescador de 18 anos, optou por ficar em terra, junto da namorada. No dia seguinte, foi chamado à capitania e ficou preso durante 24 horas. O governo dos Estados Unidos, decidiu homenagear os pescadores envolvidos na acção de salvamento. Em Fevereiro de 1950, na respectiva embaixada em Lisboa, foi entregue ao governo português uma lápide contendo os nomes dos pescadores. Na cerimónia estiveram presentes os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Marinha dos Estados Unidos e membros do governo português. Da Terceira deslocaram-se o dr. Francisco Lourenço Valadão Jr., em representação do governo civil, e dois dos pescadores: João Nunes Areias (João Catrina) e Manuel Machado Vitória (Manuel Sardinha). No regresso à ilha, a placa foi colocada na ermida, com uma cerimónia solene. Estiveram presentes os comandantes das bases aéreas portuguesa e americana, o capitão do porto de Angra, o secretário da Câmara Municipal da Praia da Vitória, os pescadores e suas famílias, bem como elementos da população local. Com o sismo de 1980, a placa desapareceu no meio das ruínas da ermida. Encontrada posteriormente, foi entregue ao comando americano que procedeu à sua restauração. Num jantar realizado no Clube de Oficiais Americanos, procedeu-se à cerimónia de devolução, para a qual foram convidados sete marítimos ainda vivos48 . Nomes inscritos na placa; José Gonçalves França (neto),José Lopes, Manuel Machado Vitória (“Sardinha Pequeno”), José Martins Nogueira, Manuel Borges de Lima,Jacinto Martins de Lemos,José Martins de Lemos, Manuel Martins de Lemos, João Machado Borges, Manuel Machado de Lima, Guilherme da Silva França,João Nunes Areias, Francisco Vieira Correia, Manuel Machado Vitória (“Sardinha Grande”), José Faria Xavier, José Carreiro, Francisco Machado Vitória, José de Sousa Miranda, Manuel Ferreira Goulart, Manuel Pereira Gil, Pedro Machado Vitória e o Guarda Fiscal, Izolino de Freitas.

 

 

 

7.3 | ERMIDA DA MADRE DE DEUS OU DA MISERICÓRDIA 

Continua por desvendar a relação da ermida da Madre de Deus com a Casa da Misericórdia, pois não se sabe se terá sido construída por aquela instituição. De qualquer forma, a sua actividade já era conhecida no século XVI, onde se realizavam casamentos e funerais de pobres e forasteiros. Neste século, já estava toda lajeada, com tumba, bandeira, vestimentas, mesa, assentos, cortinas e grades na capela. Tudo indica que a administração da ermida seria da conta da confraria da Misericórdia. Inicialmente, a ermida teve como orago Nossa Senhora da Madre de Deus, depois Nossa Senhora da Esperança e, em 1766, novamente da Madre de Deus, com devoção no primeiro de Maio de cada ano. A ermida foi construída do lado nascente da Praça, com duas largas portadas de entrada, uma virada para a estrada, outra para a Praça, e uma só fresta na capela que dava luz ao altar. O edifício, com 14 metros de comprido e 7 de largura, não tinha estilo definido, ostentando uma simples cruz de pedra e uma legenda indecifrável sobre a porta principal. Tinha um só altar, com uma pintura baça, ainda existente em 1927, evocando a Virgem Mãe de Deus, colocada no alto do arco que fechava o nicho da imagem de Cristo Crucificado. Dois outros pequenos nichos continham as imagens de Nossa Senhora da Madre de Deus e do apóstolo São Mateus. Com o sismo de 1614, não ficou pedra sobre pedra, até o ladrilho se virou debaixo para cima, usando as palavras do cronista49 . Aprontadas as obras de recuperação, no século seguinte, em 1767, os irmãos decidiram acrescentar a sacristia. Para isso angariaram fundos, poupando nas festas e na consoada. Foi nesta altura que se principiou a tapar uma cerca à volta da igreja, construindo-se um pequeno adro, ladrilhado a cantaria, para depois se adaptar o terreno anexo para o cemitério. Em épocas mais recuadas, a ermida servia de apoio às festas do Espírito Santo. Posteriormente, abria duas vezes por ano: pela Procissão dos Passos e para receber a imagem de São João, que era transferida da igreja, na véspera. Nos anos 60, a ermida começou a degradar-se, tendo caído o tecto. As paredes exteriores também ameaçavam ruir e a igreja encheu-se de entulho. Algumas pessoas encetaram diligências para que a ermida fosse recuperada, mas a população havia contribuído, há pouco tempo, para uma série de melhoramentos e obras, ficando com os fundos depauperados: a aquisição dos instrumentos e acessórios para a filarmónica; a reconstrução da igreja, após o incêndio em 1958, e a edificação da Sociedade Recreativa, o Salão. Segundo a opinião de José Rocha, “todos estes gastos obrigaram a que os vilanovenses ficassem saturados de tanto dispêndio pessoal, tendo também faltado um verdadeiro incentivo e entusiasmo dos responsáveis da Ermida. Em 1970 apenas existia parte das paredes e restos de escombros e entulho. A parte que ainda estava no ar causava graves perigos aos transeuntes e particularmente às crianças da escola que existia ali ao lado e o entulho ali acumulado estava causando grave perigo à saúde pública. Em 1973 a Junta de Freguesia dirige-se às autoridades competentes para retirar tudo quanto ali existia”. A ermida estava condenada e o processo desenrolou-se do seguinte modo, conforme nos explica José Rocha;

Como a maioria das opiniões era no sentido de não se reconstruir a Ermida, mas sim a possibilidade de ali edificar a futura Casa do Povo, fez-se então um inquérito a todos os habitantes da freguesia, tendo sido distribuído porta a porta, um impresso (no total 502) com as seguintes questões: 1 – Reconstrução da Ermida da Misericórdia. 2 – Casa do Povo, Regedoria, Sede da Junta de Freguesia, Cooperativa de Consumo e pequena Capela. O referido inquérito teve lugar no dia 6 de Julho de 1975. Dos 502 impressos distribuídos entraram na uma 255 com as seguintes opiniões: Ermida – 77; Casa do Povo, etc. – 169; Nulos – o; Em branco – 1; Total – 255. Nove pessoas, presididas pelo Pároco da Freguesia assistiram ao resultado do inquérito. Como as abstenções atingiam quase 50%, foi feita uma sondagem a um número significativo de abstencionistas, cujo resultado foi que 97% era contra a reconstrução da Ermida. Portanto, isto não foi uma decisão administrativa, mas uma deliberação democrática, decidida esmagadoramente pelo povo da freguesia. Posto isto, haverá mais que depreciar os Vilanovenses, que procederam de uma forma clara na sua decisão? Será que haverá um caso igual a este? Creio que não! Todos os esforços foram feitos tendo em vista os organismos oficiais ajudarem-nos a reconstruir a Ermida, mas todas as respostas foram negativas.50 Este importante documento merece ser aqui arquivado por várias razões. Em primeiro lugar, para mostrar que os vilanovenses procederam de forma democrática em todo o processo, pondo em prática a decisão da maioria. Mas este processo mostra também que a maioria pode não ter sempre razão. As maiorias também se enganam. Todavia, é preciso ter em conta a época em que tudo se desenrolou. De facto, nem as autoridades oficiais nem a população tinham uma consciência tão arreigada para a defesa do património construído, como veio a acontecer posteriormente. Essa foi uma das razões que facilitou a demolição da ermida, do chafariz e outras coisas mais. Mas que o exemplo sirva para as camadas mais jovens estarem mais atentas à defesa do nosso património e não permitirem que outros erros se cometam.

No edifício da Casa do Povo, que ali se construiu, foi incorporada uma capela onde estão guardadas algumas relíquias que existiam na ermida, tendo as imagens da Virgem e o Crucifixo transitado para a igreja paroquia

 

74 | IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA

 As notícias sobre a existência de uma Santa Casa da Misericórdia na Vila Nova remontam a 1533, ano em que Grimaneza Homem, mulher de Brás Dias, lhe doou em testamento trezentos reais e vestidos para que os irmãos os repartissem pelos pobres51 . Outras doações se seguiram muito antes de 1570, data que era geralmente apontada para a sua fundação, por João da Silva do Canto, que lhe doou cerca de quatro moios de trigo anuais e conseguiu bulas apostólicas da Santa Sé. Pelo testemunho do padre Manuel Luís Maldonado, a Misericórdia teria um edifício próprio onde funcionava, junto à ermida, embora a sua actividade fosse reduzida. Ao escrever sobre o sismo de 1614, afirma que a casa da Misericórdia estava “asolada totalmente” bem como a ermida da Madre de Deus. O facto de se instituir uma Misericórdia numa freguesia rural está relacionado com a pretensão do capitão da Praia em transformá-la numa vila, como foi referido. Embora o povo tivesse recusado essa promoção, o projecto da Misericórdia permaneceu, com a respectiva confraria. As condições impostas para se ser irmão exigiam ter boa fama, sã consciência, vida honesta, ser temente a Deus e guardador dos seus mandamentos, manso, humilde a todo o serviço a Deus e à dita confraria. Os deveres dos irmãos implicavam a obrigação de acudir no dia da Visitação de Nossa Senhora para fazerem a eleição de novos oficiais e assistirem à festa, no que tinham indulgência plenária, confessando-se e comungando, ou ao menos tendo verdadeira contrição dos seus pecados; deviam também no dia da Quinta- -feira de Endoenças acompanhar a procissão com seus balandraus e insígnias. De igual modo, eram obrigados a comparecer todas as vezes que da parte do Provedor fossem avisados para procissões, enterros ou outras cerimónias. Após três faltas sem justa causa podiam ser expulsos. Tinham por obrigação rezar, cada um, cinquenta vezes o Padre-Nosso e a Ave-Maria por cada irmão falecido. A Santa Casa da Misericórdia viveu sempre com fracos rendimentos e muitas das suas obrigações deixaram de ser cumpridas, mesmo antes de ser extinta. Contudo, parece que os irmãos gastavam o dinheiro em comezainas em vez de o aplicar na devoção. Em 1673, numa visitação, o bispo D. Frei Lourenço criticou o facto de, na Quinta-feira de Endoenças, a imagem de Cristo só estar acompanhada por dois círios. A razão da poupança estaria relacionada com o gasto do dinheiro “em consoadas toda a noite no consistório e comeres”, quando o tempo devia ser de “penitências e não de ajuntamentos de comidas à custa da casa”. Mandou que se colocassem quatro círios, acesos toda a noite com a assistência de dois irmãos por turno. Se não o fizessem fecharia igreja. A recomendação não deu os resultados desejados pois, em 1767, a consoada continuava a fazer-se52 . Em 1829, por portaria de 19 de Outubro, o conde de Vila Flor extinguiu as Misericórdias da Vila Nova e de São Sebastião, sob o pretexto de que não tinham hospital nem estatutos próprios e os bens foram entregues à Câmara de Angra, para socorrer os expostos (crianças abandonadas na Casa da Roda ou noutros locais). Entre 1844-48, o governador Anastácio de Bettencourt resolveu doá-los ao hospital da Praia, para logo de seguida outro governador civil, António José Vieira Santa Rita, os devolver à freguesia, com o objectivo de sustentar uma escola de primeiras letras. Nessa época, os rendimentos não iam além de dois moios e 23 alqueires de trigo e dois mil réis em dinheiro. Nos orçamentos da Misericórdia, em 1853, a receita de 234 Réis era quase toda aplicada na sustentação da escola do sexo masculino. Esta escola funcionava, portanto, na pequena casa contígua à ermida, provavelmente a casa da Irmandade. As despesas eram ainda aplicadas na conservação do edifício, caiação dos muros do adro e reparos na calçada que o circundava. Mas a situação tornou a alterar-se, por alvará de 23 de Junho de 1860, da autoria do governador civil José Maria da Silva Leal, que voltou a atribuir os rendimentos à Câmara de Angra, entregando a administração desses rendimentos ao Asilo de Mendicidade. A partir de então a ermida da Misericórdia passou a ser sustentada pelos paroquianos e foi entrando em decadência. Só não se degradou mais porque havia a devoção a São Mateus, com festejos regulares. Era com o produto dessas oblatas que se sustentava a ermida. No final do século XIX, o padre Luís Barcelos colocou-lhe um sobrado e retocou-a à sua custa53 . O terreno anexo à Ermida e ao edifício da Irmandade teve várias utilidades. Nele foi instalado o cemitério (1833 a 1903) e no consistório funcionou a escola primária, como já foi referido. No período da I República, um californiano endinheirado quis comprar os terrenos anexos para ali construir uma casa apalaçada. Pagava bem, mas o povo recusou. Em 1916, a Junta da Paróquia cedeu por arrendamento de 50 anos um lote do cemitério antigo, a fim de nele se instalar um armazém, que deu origem à mercearia de Pedro Valadão. Apesar da indignação, não houve grande contestação porque ficava no extremo e o muro do cemitério ameaçava ruir. Mas logo de seguida, surgiu outra proposta, que foi recusada, para se instalar ali uma tenda de barbeiro e um talho com frente para a Praça, ao lado da ermida54 . Foi preciso esperar mais uns anos para que o terreno tivesse outra utilidade: demolido o consistório, construiu-se um edifício de dois pisos para uma escola primária mais ampla, inaugurada em 1928. O próprio adro foi encurtado e alterada a escadaria fronteira.

 

 

9.5 | ASSOCIAÇÃO DE INSTRUÇÃO E RECREIO (SALÃO) 

A construção da sede da Associação de Instrução e Recreio implicou um grande esforço da população. Como sempre, o povo contribuiu consoante as suas possibilidades (dinheiro, dias de trabalho ou cedência de materiais) e um grupo de pessoas mais abastadas avançou uma verba para que se iniciasse a obra, cuja dívida foi sendo abatida ao longo dos anos. Aos emigrantes também foi pedido um contributo expresso na carta que lhes foi dirigida nos seguintes termos: Procurando dar realidade ao antigo desejo que os vilanovenses acalentam com tanto amor no seu coração, resolveu um grupo de homens desta Freguesia tomar a responsabilidade de empreender a construção de um Salão, onde a Vila Nova possa receber as Entidades públicas ou particulares que nos visitem e dar instrução cultural e recreio ao povo desta Freguesia, principalmente à nossajuventude, afastando-a assim dos lugares menos sãos ou perigosos. Como esta obra é do interesse de todos osfilhos de Vila Nova e a todos se destina, tomamos a liberdade de levar ao conhecimento de V Ex.a a nossa resolução, pedindo o seu estimado parecer, que tomamos em conta. Conhecendo o grande patriotismo de V. Ex.a por tudo aquilo que é para bem da nossa Freguesia, esperamos o seu apoio a esta iniciativa afim de Vila Nova poder em breve equiparar-se com as Freguesias vizinhas, Lajes, Pontinhas e Agualva, que possuindo já os seus Salões nosjulgam inferiores e por isso nos amesquinham. Sendo-nos impossível dirigir individualmente o nosso apelo a cada um dos Vilanovenses aí residentes, pedimos a VI Ex.” que entre os seusparentes e amigosfaça suas as nossas palavras para que esta iniciativa se tome uma realidade efique a ser para os nossosfilhos um luminoso Farol que será guia e exemplo da grande chama de amorfilial de V. Ex.” para com esta sua e nossa Freguesia, onde o vosso nome é invocado com respeito e saudade. Agradecendo desdejá o que V. Ex” possafazer pelo bom nome e desenvolvimento social desta vossa Freguesia, respeitosamente nos subscrevemos com os mais sinceros votos defelicidade para V. Ex.” e Ex.ma Família. Como se constata, a carta procurava tocar o coração dos emigrantes e era assinada por uma Comissão Organizadora composta por Bento da Silva Vaz, José Machado d’Oliveira, Manuel Cardoso Luiz Soares, Francisco Martins Enes e António Rodrigues Coelho. Em pouco tempo, ergueu-se na Vila Nova o mais moderno Salão de todo o meio rural, com ampla sala de cinema, esplanada, bar, nos dois pisos, salas de jogos, sala para ensaio da filarmónica, sala da direcção e biblioteca. A inauguração, em 1964, criou fricções entre famílias e divisões na freguesia. Uns continuaram fiéis ao Sport Clube Vilanovense, não se associaram à nova colectividade e nela se recusaram a entrar; outros, ao aderirem a esta, passaram a ser mal vistos na primeira e deixaram de a frequentar. Levou bastante tempo para que os ânimos se acalmassem, por razões que em nada se justificavam. Ao abrir as suas portas ao cinema, ao teatro e a outras actividades, a vida cultural da freguesia enriqueceu. Assim, passou a haver duas sessões de cinema por semana, em cada uma das colectividades. Raramente as salas se enchiam, a não ser em dias festivos, mas havia sempre espectadores. E os filmes geravam discussões apaixonadas em relação ao conteúdo ou ao desempenho dos actores. Era através deles que os olhos se estendiam pelo mundo e os sonhos ultrapassavam as barreiras do horizonte cerrado pelas nuvens. A chegada da televisão à Região veio acabar com esta actividade cultural, como aconteceu em muitos outros sítios.

 

9.6 | FOLCLORE

O folclore, como espectáculo de massas e para turista apreciar, faz parte de uma sociedade de consumo mais recente. Para épocas mais recuadas, as modas regionais eram cantadas e dançadas por altura das desfolhadas e nos terços do Espírito Santo, num ambiente mais fechado e com uma participação do público que entrava e saía da roda ou se intrometia nos desafios. Pelas festas de São João começaram, então, a aparecer na freguesia cantadores e cantadeiras que se exibiam na Praça, iniciando-se o ciclo do espectáculo público, embora coexistente com as outras práticas, mais regulares ao longo do ano. Com maior ou menor frequência se iam fazendo incursões pelo nosso folclore, até surgir, no começo dos anos 6o, o primeiro grupo local, com o objectivo de dar espectáculos públicos. No início, os ensaios tiveram a colaboração de José da Lata e eram feitos na loja da casa que pertencia a Maria da Purificação Valadão, hoje na posse do neto, José Rafael. Depois da saída do célebre cantador popular, a direcção musical ficou a cargo do tio “Cu de Ovelha” e do filho, residentes em São Brás, e as letras foram escritas por Francisco Martins Enes (Chamarrita). Durante várias semanas afinaram-se as violas, as gargantas e aprimorou-se a coreografia até à estreia pelo São João, a que se seguiram várias actuações na ilha. Os trajos não eram tradicionais, ou seja, os homens usavam fato e gravata e as raparigas saia e casaco ou vestido. Este grupo terá sido um dos primeiros a surgir na Terceira. Com a saída de alguns dos participantes para a guerra colonial, sucederam-se substituições até que, ao fim de três anos, acabou por se extinguir. Uns anos depois, em 1982, fundou-se um novo grupo, ligado à Casa do Povo. Não só tem promovido actuações no arquipélago, como se tem deslocado ao continente para participar em festivais. No intercâmbio que tem sido impulsionado, a freguesia tem beneficiado com a presença de grupos de diversas localidades, abrilhantando as festas de Verão. O dinamismo do sr. Bernardino Rosa tem sido fundamental para a vida do grupo.

 

9.7 | FILARMÓNICA

 As bandas de música são um fenómeno sociocultural recente, que se expandiu a partir da segunda metade do século XIX. Nos Açores, a notícia mais antiga que se conhece data de 1818 em que um graciosense, Timóteo Espínola de Sousa Bettencourt, regressou do Brasil acompanhado por uma filarmónica toda ela composta por negros. Uns anos depois, 1831-32, chegaram a Angra e a Ponta Delgada duas charangas, integradas nas forças liberais provenientes de França e Inglaterra, o Batalhão de Caçadores 560 Regimento de Infantaria 18. Por ali permaneceram pouco tempo, porque acompanharam a expedição militar em direcção ao Norte do país, mas a sua presença foi suficiente para agitar as localidades por onde desfilaram. A partir de então, foram surgindo as primeiras filarmónicas na região. Levantar uma filarmónica exigia e exige algum investimento na compra dos instrumentos e dos fardamentos. Se os caciques impulsionaram e contribuíram para a criação de alguns grupos, na maior parte dos casos foi com o contributo das populações e o sacrifício dos participantes que elas se sustentaram. Deste modo, se criaram centenas de filarmónicas por todo o arquipélago. Verdadeiras escolas de arte e de civilidade que atingiram milhares de cidadãos ao longo dos tempos, tornando-se um símbolo de identidade e de orgulho da respectiva freguesia. Se noutras actividades culturais a Vila Nova foi pioneira, no caso da filarmónica nunca mostrou grande empenho. As suas festas foram sempre abrilhantadas com bandas de outras localidades, principalmente Agualva, Pontinhas e Lajes. Por volta de meados do ano de 1955 – escreve José Rocha – um pequeno grupo de generosos vilanovenses, ansiosos por acompanhar as freguesias vizinhas, decidiram percorrer toda a freguesia a fim de angariar fundos para a compra de uma filarmónica. Foram eles: José Martins Aguiar Ramalho, Belchior Augusto de Melo, Francisco Martins Enes, Manuel Dias Areias, Constantino Tomás da Silva, Manuel Inácio de Meneses. A direcção técnica e musical ficou a cargo do senhor José da Costa Raulino, oriundo da ilha de São Miguel, tornando-se assim o primeiro regente. A receita recolhida na freguesia ficou aquém do necessário, mas o grupo de homens, com o seu espírito altruísta e orgulhosos no desenvolvimento musical da suafreguesia, não desistiram. Foi estabelecido cobrar uma cota mensal a todos os amigos do Espírito Santo e fizeram a encomenda do instrumental que ficaria associado ao Império; os últimos quatro vilanovenses acima referidos passariam a ser os directores da Filarmónica e do Império. O custo dafilarmónicafoi de 65.272550, na época não havia subsídios. No dia 29 de Janeiro de 1956 a bordo do Carvalho Araújo, desembarca em Angra, o tão desejado instrumental para a constituição da nossafilarmónica que viria a designar- -se “Filarmónica Lira do Espírito Santo de Vila Nova.

A sede inicial era na Despensa e aí foram expostos os instrumentos para apreciação da população. A partir de então, os ensaios ocuparam as noites dos que se embrenharam na nova actividade cultural. Ler a pauta não era tarefa fácil para jovens e adultos com fracas habilitações. Registe-se, contudo, que muito deles, principalmente, os mais velhos, eram já tocadores de instrumentos de corda noutras actividades, nomeadamente no tempo da Acção Católica. Para casa levavam os instrumentos e por todo o lado se ouvia os principiantes soprando a plenos pulmões até saírem notas afinadas. Andaram nos ensaios durante 18 meses, orientados pelo sr. Raulino, formando-se a primeira banda com cerca de 30 pessoas. Aos poucos foram perdendo o acanhamento e saltaram para a rua, ensaiando o passo e tocando à luz do petromax. A estreia oficial aconteceu na Procissão dos Passos e a fase experimental prosseguiu nas festas do Espírito Santo. Fora da freguesia, a filarmónica estreou- -se no dia 29 de Julho de 1957, na visita do Presidente da República, general Craveiro Lopes. Na sua passagem pela Praia da Vitória, foi homenageado por todas as filarmónicas do concelho e a da Vila Nova não deixou de estar presente. Na Praça Francisco Orneias da Câmara executou o Passo Doble, “O Exército Português”, e ficou classificada em segundo lugar, depois da filarmónica da Sociedade “Velha” das Lajes. Uma estreia auspiciosa que lhe deu ânimo para prosseguir. Nos anos da guerra colonial passou por algumas dificuldades, por causa da partida dos mancebos, mas continuou a sobreviver com o esforço e o empenho de jovens de ambos os sexos. Foram seus regentes até 2006: José Raulino, João Cabral, Maiato, Manuel Pires (Lajes), Padre José Gomes, Francisco Martins Enes (Chamarrita), Joaquim Fernandes, Francisco Valadão, Luciano Dinis, Manuel Valadão (Agualva), Sargento Ricardo, José Hélio e Márcio Coelho. Quando foi construído o Salão, ficou logo previsto na planta inicial um espaço apropriado para os ensaios da filarmónica, mas continuando esta sob a alçada da Comissão do Espírito Santo. A partir de 30 de Abril de 2004, as duas instituições fundiram-se sob a designação de Sociedade Filarmónica da Vila Nova, tendo como patrono o Divino Espírito Santo.

 

9.8 | FUTEBOL 

A vida desportiva na freguesia resumiu-se, no essencial, à prática do futebol. As outras modalidades não tiveram grande implantação, com excepção do voleibol, nos anos 40, por intermédio da Acção Católica, e depois de 1964, na esplanada do Salão, onde foi praticado durante alguns anos. O pingue-pongue teve vários adeptos nos anos 60, com mesas no café Texas, no Salão e numa loja da casa do João Pancrácio. Várias equipas de Angra e de outras localidades defrontaram jovens da Vila Nova em torneios com carácter oficial. O bilhar também teve alguns praticantes numa mesa existente no Salão. Ao ar livre, o emboque, era jogado nos anos 20 e 30, o crocket terá sido praticado entre os anos 30 e 50, e o popular jogo do bilro foi o único a manter-se no presente. Mais recentemente, a Casa do Povo sustentou um clube de Judo, com prestações bastante reconhecidas e premiadas. As atenções e o interesse concentraram-se, portanto, no futebol, modalidade que se estruturou na Inglaterra, em 1863, com as leis que o regem na actualidade. Foi através dos ingleses e de estudantes portugueses naquele país que ele chegou a Portugal. A primeira bola terá entrado no continente por volta de 1861 e o primeiro jogo público realizou-se em 1888, quando na Madeira já havia notícias de um realizado em 1875. Nos Açores o processo foiidêntico. Em Ponta Delgada, foi praticado pelos alunos do colégio Fischer, orientados pelo padre James Darymple, em 1895. O mesmo padre e outros ingleses introduziram-no na Horta, por volta de 1900, enquanto que em Angra, essa proeza coube aos estudantes Tomé de Castro, Eduardo Abreu e José Narciso Parreira Coelho, que haviam estudado em Inglaterra, no virar do século. A prática do futebol na Terceira desenrolou-se de forma muito irregular e desorganizada. Até à I Guerra Mundial, os jogos realizavam-se no Relvão, que, entretanto, foi ocupado por militares, deixando o terreno impraticável. A partir dos anos 20, deu-se uma grande reestruturação com a fusão de pequenos grupos, constituindo-se equipas que perduraram até ao presente. Assim, em 1922, fundou-se o Sport Clube Lusitânia; em 1929, surgiu o Sport Clube Angrense, e a outra grande equipa da cidade só foi fundada oficialmente em 1938, o Sport Clube Marítimo. Em 1924, foi inaugurado oficialmente o campo de jogos da cidade, melhorado em 1943. Outro campo utilizado, até aos anos 30, ficava situado no antigo convento da Graça, hoje Escola Primária dos Alto das Covas. As equipas faziam-se e desfaziam-se com relativa facilidade e não havia organismos que coordenassem a actividade. Só em 1921, se criaram em São Miguel e na Terceira as Ligas Desportivas, antecessoras das Associações de Futebol, que passaram a coordenar o desporto. A Associação da Horta só surgiu em 1930. Por este facto, o primeiro campeonato açoriano realizado em 1925 só incluía equipas das duas primeiras ilhas, e foi ganho pelo Lusitânia. Na fase inicial, o futebol era um fenómeno essencialmente urbano. Para além das equipas já referidas para Angra, marcaram presença durante algum tempo na Praia da Vitória, nos finais dos anos 20, duas equipas: o Santa Cruz Foot Ball Clube e o Foot Ball Clube Onze de Agosto. Só depois da instalação da Base das Lajes, se criaram condições para que surgissem outras duas mais sólidas: o Sport Clube Praiense (1947) e o União Desportiva Praiense (1948). Foi também na década de 20 que este desporto começou lentamente a aparecer nos meios rurais. Para esta época há notícias de alguns encontros na Serreta, nas Lajes e na Vila Nova.

 

VILA NOVA SPORT CLUB 

A Serreta, no início do século XX, mantinha estreitos contactos com a cidade, por causa das suas famosas festas e terá sido, por isso, uma das primeiras freguesias a praticá-lo. Na sequência de uma ida de romeiros vilanovenses à tourada no pico da Serreta, no ano de 1924, ficou decidido formar uma equipa de futebol. Deste modo, se criou a Associação Progresso Vilanovense, encarregue de promover o futebol. Era dirigida por Pedro Lourenço Valadão, João Cardoso Ázera, José Martins Aguiar e os professores Manuel Cardoso Leal Jr. e Luís Gaspar de Lima. Na Assembleia-geral pontificavam o dr. Francisco Lourenço Valadão Jr., o padre Manuel Narciso de Lima e João Machado d’Ávila. O capitão da equipa era Luís Gaspar de Lima. A sede da associação estava situada na Rua da Misericórdia e o campo no cimo da Rocha, ao fundo da Rua do Passo. A Associação Progresso Vilanovense arrendou um cerrado que foi adaptado para a prática do futebol: Levantaram-se balizas, cravaram-se sulcos divisórios e como se tomava um caso sério, adquiriu-se um tratado ilustrado, das várias peripécias do jogo, que foram estudadas e religiosamente seguidas. Ninguém se poupou a canseiras nem a despesas e, através àe algumas constipações inevitáveis à posição do campo, e dalgum sopapo preventivo dos pais que não entendiam nem engraçavam com semelhante manobra, a mocidade turbulenta de tórax bem arcado e membros espadaúdos, botou-se à faina; e a breve prazo dava sota e ás ao mais sabão doutor.90 Com camisola preta de malha e calção branco de cotim, a equipa começou a enfrentar os adversários. Os primeiros resultados foram animadores. Os praienses, “apesar de certos meneios aprimorados, próprios de gente da vila”, na altura limitavam-se a uns treinos no areal e, por isso, foram derrotados várias vezes. Acima de tudo, prevalecia o espírito desportivo e o convívio no final do jogo, com um copo-de- -água na sede da associação. Seguiram-se outros desafios com o Serretense, a União Desportiva Lajense, e as equipas de Angra – Empregados do Comércio e Lusitânia. No dia i de Agosto de 1926, realizou-se na Vila Nova a grande festa da Educação Física. Por volta do meio-dia, os visitantes de Angra chegaram à freguesia em camionetas e carros particulares. Em casa do dr. Valadão houve uma sessão solene de propaganda dos princípios salutares da Educação Física. A ela assistiram numerosas senhoras, representantes da imprensa, da Liga de Educação Física (organismo que antecedeu a Associação de Futebol), membros dos clubes participantes, bem como desportistas e individualidades de Angra e Vila Nova. Após os discursos e palestras foi oferecido um copo-de-água pela direcção. A segunda categoria do Lusitânia venceu por 2-1 e depois do jogo exibiram-se os ginastas “Os Lusos”, cujo trabalho de resistência e destreza foi muito aplaudido. A festa foi abrilhantada pela filarmónica da Agualva. A partir de 1926, as notícias na imprensa são mais escassas, com referências muito esporádicas a um ou outro jogo. As atenções dos jornais viravam-se na altura para os jogos na cidade, com equipas melhor preparadas e a concorrerem para o campeonato da ilha.

 

SPORT CLUBE VILANOVENSE 

Só depois da abertura da Base Aérea Portuguesa e da Base Americana, o futebol ganhou alguma dimensão no concelho da Praia. Para além dos militares, registou-se uma afluência de empregados civis oriundos de outras ilhas que permitiu um maior recrutamento. Assim se ergueu o Sport Clube Vilanovense no dia 15 de Agosto de 1953. Foram seus fundadores Alberto Tomás de Melo, Carlos Ferreira Mendes Enes, José Carlos Dinis e Lourenço Valadão. Os estatutos levaram também a assinatura de José Machado Pimentel, José Machado de Oliveira, Manuel Borges Monteiro, Alexandre Ávila Diniz, Manuel Luís Soares Dias, Francisco Martins Aguiar Ramalho, Manuel Pereira Valadão, Luís Caetano da Silva, José Luís Soares, Francisco Inácio Meneses Valadão, José Caetano Diniz e José Borges Valadão91 . Não foram fáceis os primeiros anos de vida da colectividade. O pagamento do aluguer da sede, o arranjo e a manutenção do campo ou a aquisição de equipamentos, exigiu um esforço grande da comunidade e dos dirigentes do clube. Dado que na freguesia não existiam jovens suficientes para formar equipa, foi necessário, desde o início, contratar forasteiros. Para agarrar alguns deles era imperioso arranjar-lhes casa, assegurar-lhes alimentação e até emprego na Base, por intermédio de Carlos Ferreira Mendes Enes, na altura a trabalhar no Escritório Civil. Uma luta difícil, dado que os mais habilidosos passaram a ser cobiçados por outros clubes. O Vilanovense tornou-se, assim, a primeira equipa das freguesias rurais a federar-se na Associação de Angra, dois anos depois. Apesar de todas as dificuldades, era uma equipa temida. Nos dias de jogo, a freguesia enchia-se de visitantes que acompanhavam as equipas, mas também de entusiastas das freguesias vizinhas. Gente de todas as idades e de ambos os sexos não se cansava de gritar: “Vá, Vila Nova!!”. Os cânticos de regozijo entoavam-se por toda a parte: “É canja, é canja/ é canja de galinha/ a defesa do Praiense/ não aguenta a nossa linha!”. Com um resultado de feição e a necessidade de queimar tempo, aplicava- -se a táctica infalível da bola para a figueira. E lá ia ela para o meio de uma vinha e de umas figueiras num cerrado ao lado do campo. A própria rapaziada, bem instruída, tudo fazia para se demorar a encontrar o esférico. Quando os resultados não eram favoráveis, a equipa de arbitragem só conseguia atravessar a estreita canada, protegida pela polícia. O que não podia evitar eram os assobios, os gritos e alguns impropérios usados nestas ocasiões, muitos deles proferidos por mulheres mais exaltadas. Até à abertura do Salão (1964), o “Clube da Bola” era o grande centro de convívio dos vilanovenses. Durante a semana, mas principalmente ao Domingo, as suas salas enchiam-se de jogadores de cartas e dominó. No terreiro em frente à sede, o jogo do bilro prolongava-se pela tarde fora. Aos lucros provenientes da exploração do bar, juntou-se pouco depois a receita do cinema. Num velho barracão de madeira e chapas de zinco, com bancos corridos, exibiam-se “fitas” duas vezes por semana. Pelo palco, começaram a passar grupos de comédias e Danças do Entrudo. Até á inauguração da luz eléctrica, era utilizado um pequeno gerador que rompeu a escuridão da freguesia. A velha sede do clube, instalada em casa alugada, foi adquirida em 1973 e sofreu melhorias nessa data, bem como a sala de cinema. Em anos posteriores, outras remodelações foram surgindo, inclusive no campo, até chegar o ano de 1999, início da construção de uma nova sede. A implantação de um relvado sintético e o arranjo de todo o espaço circundante deram uma nova feição ao antigo campo. A obra custou cerca de 97 mil contos e teve o apoio do Governo Regional, da Câmara Municipal da Praia da Vitória, do Ministro da República e da Junta de Freguesia. A estas comparticipações juntaram-se donativos de associados, empreiteiros, comissões de festas, empresas privadas, ganadeiros e simpatizantes. Na nova sede, inaugurada no cinquentenário da associação, foram colocadas duas lápides: uma aos sócios fundadores e outra à Comissão de Obras. A colectividade foi agraciada pela Câmara Municipal da Praia, com a medalha de Valor Desportivo em Prata, em 1996 e 1998, e outra de Ouro, em 2003.

MOMENTOS DE GLÓRIA DO VIIANOVENSE

1980/81- finalista da Taça ilha Terceira

1985/86 – vencedor do Torneio de Preparação, na categoria de Juvenis;

1988/89 e 89/90 – campeão da ilha Terceira e campeão da AFAH;

1990/91 – participação no campeonato Nacional da III Divisão;

1996/97 – finalista da Taça Açores; i 997/98 – campeão do torneio da AFAH; rggS/gg;

1999/2000 e 2000/01 – participação no Campeonato Nacional da III Divisão – Série Açores; 2001/02 – campeão da ilha Terceira; vencedor da Taça da AFAH e vencedor do torneio de apuramento à Taça de Portugal.

Vários jogadores notabilizaram-se no clube, numa perspectiva local, mas só um alcançou prestígio nacional: o guarda-redes Álvaro Manuel Soares Pereira (n. 1961). Começou por defender as redes dos Juvenis, em 1976-78, transitando para o Sport Clube Angrense, entre 1978-81, onde conquistou o título de campeão açoriano (1980-81). No contrato com o Sport Clube Lusitânia (1981-87), teve a hipótese de ascender à III Divisão Nacional, conquistando o título da Série E (1985-86). Pelos jogos realizados no continente, acabou por ficar ligado a um clube da I Divisão: o Boavista Futebol Clube (1987-89 e 1990-91), que lhe abriu a porta para outros contratos. Em 1989-90, defendeu a baliza do Estrela da Amadora, conquistando a Taça de Portugal; entre 1991-95, esteve ligado ao União Desportiva de Leiria, donde passou para o Campomaiorense (1995-97), alcançando o título de Campeão Nacional da II Liga. Acabou a carreira desportiva no Sport Clube Lusitânia, entre 1997-2002, conquistando mais dois títulos da Série Açores. Continuou ligado ao futebol como treinador de várias equipas. Mesmo enfrentando algumas dificuldades, o Sport Clube Vilanovense continua a desenvolver uma actividade meritória para os jovens da freguesia. Durante vários anos, o futebol também foi praticado na freguesia por equipas filiadas no INATEL, sedeadas na Casa do Povo.

 

9.9 1 ESCUTEIROS

 O movimento escutista fundado por Baden Powel, em 1907, chegou ao continente português em 1913, como um movimento aberto a todos os credos. Após várias divergências, surgiu o Corpo Nacional de Escutas (CNE), controlado pela Igreja Católica. Nos Açores, a cúpula do CNE ficou organizada em 1925, mas só iniciou actividades em 1929. Paralelamente ao grupos ligados ao CNE, continuaram a funcionar outros abertos a todas as crenças, mas a sua implantação no país foi sempre mais reduzida. A grande expansão do movimento escutista só aconteceu a partir dos anos 70. Inserida neste espírito expansionista, a ideia começou a germinar em 1978, tendo sido criado a 15 de Fevereiro do ano seguinte o Agrupamento 696 da Vila Nova. Iniciou as actividades em 1983, tendo como primeiro chefe Manuel Pires Luís.

O grupo construiu sede própria, nos terrenos do antigo Passal, participou em acampamentos nacionais, nos Jamborees açorianos, promoveu sessões de formação, integrou-se em várias festividades da freguesia e da ilha, e colaborou em peditórios e outras iniciativas de carácter social. Tem como padroeiro o Divino Espírito Santo, tendo adquirido uma coroa, com ajuda da população

 

9.10 1 CENTRO DE CONVÍVIO DA TERCEIRA IDADE 

Por este nome é conhecido o Centro de Acção Social do Espírito Santo, inaugurado a 29 de Janeiro de 1992. Com sede na Junta de Freguesia, presta serviços sociais a crianças, jovens e em particular aos idosos. O Centro funciona durante a semana, nomeadamente da parte da tarde, para o convívio dos mais idosos, de ambos os sexos. Das suas actividades constam passeios para o exterior da freguesia e da ilha, representações teatrais, bailinhos de Carnaval, participação em cortejos etnográficos e a organização de um Grupo Coral. O apoio ao domicílio tem sido efectuado com a cooperação do Instituto de Acção Social, prestando variados serviços que vão da higiene pessoal, à limpeza da casa, tratamento de roupas, refeições, etc. As novas instalações do Centro multiusos passarão a albergar esta instituição.